Eu e a Religião - Parte VI

Este artigo é a sexta e última parte de um longo ensaio sobre minha relação com a religião. No anterior eu conto como a religião faz parte da minha vida. Pra concluir a série, aqui eu descrevo como levo minha vida.

Parte VI - Filosofia


Como estamos sempre tentando arranjar explicações pras coisas que não conseguimos entender, na falta de explicações simples, preenchemos as lacunas com coisas espetaculares sem pestanejar. E daí, como a gente tem uma forte tendência a ignorar novas evidências e abandonar crenças, a gente acaba se prendendo a ideias inválidas e ultrapassadas. Por fim, como terminamos amarrados a crenças das mais diversas, a gente acaba por deixar ver as coisas com clareza.

Acho que essa é, então, a minha religião. A tentativa eterna de ver com clareza. De perceber quando os instintos enganam, quando a ansiedade comanda, quando a visão é embaçada pelo desconhecimento. Como sei que tenho diversos pontos cegos, me preparo para antecipar os seus efeitos. Aprendi que o mundo que enxergamos é, em grande parte, fruto de nossas próprias interpretações. E que eu sou o maior responsável por aquilo que sinto, portanto evito sempre terceirizar a responsabilidade pelas minhas emoções.

Como não acredito em vida após a morte, me preocupo com a vida hoje. Busco levar uma vida leve e serena, sem remoer o passado nem ansiar pelo futuro. E viver cada vez mais no agora, sem esperar por dias perfeitos que caibam nos meus sonhos.

Aquela mescla de filosofias que citei lá no início, que em um momento achei ser um caminho que não levava a lugar nenhum, hoje vejo que nada mais é do que a construção diária do meu código moral pessoal. Aprendi que nossa moral e nossos valores são construídos com o passar do tempo. E não há nada errado com isso. Amadureço, tenho contato com outras culturas, outros pensamentos, questiono minhas certezas e devagarzinho vou melhorando minha visão de mundo.

Passei a ver que religiões não são uma jornada a ser percorrida. A vida é a jornada. Religiões são os veículos que podem nos ajudar a percorrer o caminho. Esses veículos podem trazer segurança, ajudar a seguir em frente, a superar obstáculos, facilitar em certos trechos mais difíceis.

Há quem prefira veículos grandes e espaçosos onde cabe todo mundo. Há quem prefira veículos simples que dão mais possibilidade de apreciar a paisagem.

E há quem prefira ir a pé.

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