Marta e o Câncer

Sempre amei minha filhinha. Desde quando soube que ela habitava em mim. Amei ainda mais quando saiu o diagnóstico.

Naquela época, o anúncio de um câncer era ainda mais dolorido do que é hoje. Os recursos médicos eram menos desenvolvidos. Soava muito mais como sentença de morte.

Sabendo que não tínhamos muito tempo juntas, passei a apreciar ainda mais os momentos que tínhamos ao lado uma da outra.

Os pedidos para ir ao parquinho da praça eram recebidos com empolgação. Eu fazia questão de transformar todos em um evento, emendados com um piquenique no gramado da praça Jorge Passarinho. Muitas vezes tínhamos o iogurte preferido dela.

Quando o corpo começou a reclamar e ir ao parque exigia muito esforço, as tardes passaram a ser preenchidas com competições de vídeo game.

Marta não entendia muito bem o que estava acontecendo mas também nunca reclamou. Sempre muito esperta, intuía que a dor fazia parte do processo. Numa de suas brincadeiras preferidas, o teatrinho de marionetes, gostava de encenar as lutas da heroína que lutava contra o vilão Canceroso.

Dos últimos dias que passamos juntas, guardo com muito carinho a lembrança de seus olhinhos doces e de sua voz me confortando.

Vai ficar tudo bem mamãe.

Na Páscoa de 2007 eu morri.

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