Conto: Pedalando

Cidadezinha do interior, eu e um amigo dividimos uma garrafa de Coca na pracinha, à sombra do coreto. Dividimos porque nenhum dos dois tinha um puto, e o dono do bar só topou vender uma garrafa fiado. Viado. Eram apenas dez da manhã e não tínhamos nada o que fazer.

Era um tempo em que não havia internet, TV a cabo ou um ar condicionado para aliviar aquele calor escorchante de fevereiro. Se bem que se a história fosse hoje daria no mesmo. Lá é tão longe que nada disso chegou lá ainda. Veja você que a iluminação pública só melhorou quando, ano passado, o prefeito apresentou para o governador sua filha mais velha.

Mas, enfim, estávamos lá e meu amigo sugeriu, do nada: Vamos até Jororó de bicicleta, pela estrada velha?. Jororó é uma cidade vizinha. De carro, pela estrada nova, você chega lá em uns 40 minutos. Pela estrada velha não devia ser muito mais longe.

- Então vamos.

Pegamos nossas bicicletas e partimos. Meia hora de areia e sol-sem-sombra depois, encontramos um sinhozinho e seu jegue saindo calmamente de uma estradinha que levava a um casebre no pé de um morro distante.

- Jororó? Ah, tá meio longe. Cês deve de tê uns seis quilômetros pela frente ainda.

Seguimos. Depois do que devem ter sido mais uns oito quilômetros, lá vinha um casal numa carroça, puxados por um cavalo que parecia mais cansado que nós dois juntos.

- Jororó tá pertinho, fio. Nóis cabô de saí de lá. Mais uns três quilômetro só, né, bem?

Mais três quilômetros parecia uma eternidade pra quem já estava há umas duas horas pedalando sob o sol quente. Mas não podia ser tão mais longe assim. Fomos em frente. Uma meia hora depois, uma solitária árvore à beira da estrada nos deu a primeira sombra de todo o passeio. Ficamos descansando por uns dez minutos, mas o vento soprava tão quente que achamos que não valia a pena ficar por ali.

Sedentos e esfomeados, chegamos finalmente a Jororó. Para nós, o bebedouro público com água fresca que ficava na praça foi uma visão do paraíso. Nos refrescamos e pensamos em como matar a fome. Estávamos sem dinheiro, lembra?

Como toda cidade do interior, Jororó tinha muitas casas com árvores frutíferas nos quintais, algumas bem perto das calçadas. E nós, aqui e ali, fugindo de moradores gritando ou de cachorros latindo, conseguimos comer uma fruta ou outra. Foi quando meu amigo se lembrou.

- Vamos voltar?

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