Conto: O Ruim de Ficar Velha

Ah, filha, posso te dizer uma coisa com toda a certeza: o pior de ficar velha, o pior de chegar aos 90 anos, não são os cabelos brancos.

Antes fosse.

As pessoas acham que o pior de ficar velha é que os ossos são mais frágeis, ou que o marido ficou broxa, ou que a visão não vai mais longe, ou que a surdez não te deixa mais ouvir um concerto de Chopin, ou que você não consegue mais andar de bicicleta no parque.

Isso é ruim, claro, mas não é o pior.

O pior, é lembrar que seus pais já morreram. Que três dos seus irmãos já morreram. Que seu marido já morreu. Que quase todos os que estudaram com você já morreram. Que todos os seus ídolos já morreram. Que a Sandra da padaria morreu. Que a Elizete costureira morreu. Que sua professora de violino já morreu.

É claro que pessoas novas e boas vêm, você é um exemplo disso, mas é diferente. É como diz a música de um cantor que já morreu faz tempo: a vida é difícil quando um dos seus amigos é um cemitério.

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