Planos para 4 Anos - Continuação

No início de outubro, logo depois das eleições, eu publiquei uma lista de coisas que eu gostaria de ver sendo feitas pelos políticos eleitos. Tive algumas reações adversas e este post bota a conversa para rodar.

Sobre a legalização das drogas, uma leitora anônima perguntou:

Legalização das drogas com base na liberação de cigarro e álcool, não seria o caso de proibir essas duas também?

Faço outra pergunta: porque proibir o cigarro e o álcool? Primeiro que isso só iria criar mais dois mercados gigantescos de contrabando, porque proibição legal não é impedimento para que as pessoas consumam. O alto número de usuários das drogas ilegais é prova disso.

Depois, por que é que o Estado deve se intrometer na liberdade da pessoa em escolher o que ela come-fuma-cheira-injeta? Sim, eu sei que as drogas fazem mal e causam dependência, levando a crises e crimes, e é por isso que eu não uso. Eu nunca usei drogas porque sei que fazem mal, não porque o Estado mandou. Se por um acaso o governo proibisse a cerveja, nunca que eu iria deixar de beber uma Heineken de vez em quando.

O Thiago Verde comentou que a liberação “potencializa a punição pra quem sair da linha por estar drogado”, coisa com a qual concordo. Dirigir embriagado ou chapado teriam a mesma punição.

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Sobre a instituição da pena de morte, a leitora anônima perguntou:

Você acha que o nosso sistema jurídico é capaz dessa responsabilidade sem matar só pobre e até inocentes deixando livres os endinheirados?

Não, não acho, mas é claro que a coisa não sai de um dia pro outro né? Não basta apenas falar que, “olha só, de hoje em diante, estuprou, morreu”. Claro que é preciso criar toda uma estrutura jurídica para evitar que inocentes sejam punidos. Mas que é urgente termos punições mais exemplares, ah, isso é.

Já o Thiago Verde comentou:

Tem muito crimezinho que podia ser aliviado... um furto por exemplo... coisa pequena, tem pena alternativa q resolve.

Dependendo do crime, pode até ser. Ao invés de ficar trancafiado em uma cela com outras 74 pessoas, o sujeito poderia ir trabalhar pro governo.

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Sobre o fim de gratuidades obrigatórias, a leitora anônima falou:

Gratuidades são justificadas e as empresas de ônibus são compensadas enquanto os aposentados não são compensados de uma vida de trabalho com aposentadoria de salário irrisório. E estudantes, você diria que pais pobres mandariam o filho pra escola se tivessem que pagar transporte?

Tenho que confessar que falei um pouco sem saber como a coisa realmente funciona. Não sei se as empresas de ônibus recebem algum retorno do governo por conta das gratuidades que são obrigadas a carregar. Mas se não receberem, é uma grande sacanagem.

Quando eu trabalhava no cartório (e o Thiago Verde tá aí pra confirmar isso), a gente era obrigado a fazer alguns serviços de graça sem receber nenhum benefício disso. O cartório gastava tempo, material e pessoal para obedecer ordens do Defensor Público e não recebia nada em troca.

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Sobre a legalização do aborto, disse a leitora anônima:

Legalizar o aborto devido a estupros apenas (sem falar da pílula do dia seguinte) seria liberar um procedimento arriscado que adolescentes usariam sem medida e teriam a saúde prejudicada. Você acha certo liberar a matança de fetos por escolha pra todo mundo porque existe o estupro?

Aqui você exagerou, mocinha. Talvez eu tenha me expressado mal, mas é claro que não estou propondo um libera-geral. Como o Thiago Verde comentou, “até uma certa fase da gravidez, não vejo problema”. O problema aqui é estabelecer esta certa fase.

Já falei sobre isso aqui no Sarcófago e, relendo o texto, vi que minha opinião ainda não está formada. Claro que um aborto aos sete meses de gravidez é assassinato, mas acho que no primeiro mês não é. O problema é o meio do caminho, que ainda permanece envolto em uma bruma acinzentada e espessa.

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Sobre a flexibilização das leis trabalhistas, o Thiago Verde disse que

acho complicado... patrão ia montar.. afinal, se um não quiser ganhar SÓ X, outro vai querer...

Já a leitora anônima disse que

Flexibilizar leis trabalhistas com base nos bons acordos feitos entre as partes ferraria com todos os que tem maus patrões. O patrão pode tudo, ele que paga, ou nem isso se as leis forem flexíveis demais. Que tal a volta dos turnos de 16 horas? O empregado teria outra escolha? Seria demitido e entra alguém que aceite.

Nos dois casos, os dois argumentos caem no caso de atrapalhar a vida de quem anda direito para poder botar na linha um ou outro baderneiro. É como agia (age?) a Corregedoria do Rio de Janeiro ao criar controles absurdos do trabalho nos cartório só porque alguns tabeliães não prestavam conta direito e roubavam. É velho caso de os inocentes cumprirem a pena.

Não dar liberdade para que empresas e empregados discutam certos pontos de suas relações porque haverão empresas que vão explorar funcionários é o mesmo que aumentar o condomínio por causa dos inadimplentes. De novo: é o justo pagando pelo pecado do safado.

Gente, é claro que deveria haver fiscalização e limites para evitar que empregadores escravizem seu empregados, mas a flexibilização é justa e necessária.

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No restante dos assuntos, a leitora desconhecida e o Thiago Verde concordaram comigo. Um comentário interessante ficou por conta do Thiago:

Aulas o dia inteiro: seria ótimo, mesclar o ensino convencional, com aulas profissionalizantes, cultura, esportes, aulas de caráter doméstico, tanto pra homem quanto pra mulher, ensinar a cozinhar, a entender uma rede elétrica.

São coisas tão importantes de serem aprendidas quanto senos, reações químicas e a história do Brasil.

E vocês, o que pensam?

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